terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Agenda Positiva de Governança: 6 pilares e 15 medidas

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC, lançou o projeto a Agenda Positiva de Governança - Medidas para uma governança que inspira, inclui e transforma, onde são sugeridas 15 medidas e seis pilares com iniciativas que precisam entrar no radar das organizações imediatamente. A Agenda tem o propósito de contribuir para a construção de uma sociedade melhor por meio da disseminação de princípios e boas práticas de governança corporativa. Os pilares foram selecionados a partir dos princípios básicos de governança corporativa – transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa – e de temas amplamente debatidos no meio empresarial e acadêmico. Os pontos principais são abordados a seguir.


1) Pilar Ética e integridade
"É um imperativo moral – e um fator decisivo para a continuidade dos negócios – que os líderes das organizações promovam uma cultura de integridade, em que as pessoas pratiquem a confiança, o respeito, a empatia e a solidariedade".  
A falta de integridade na condução dos negócios tem consequências nefastas (corrupção, evasão fiscal, violações de direitos humanos e ambientais etc.), acabando com recursos da sociedade e fomentando um ciclo de desconfiança no ambiente empresarial. Tal situação leva a excessos na regulamentação e à implantação de controles corporativos, que, apesar de tudo, não são garantia de um comportamento ético.
O mero cumprimento de exigências regulatórias já não basta para inspirar confiança e as empresas precisam estabelecer um compromisso proativo com valores e princípios alinhados com interesses coletivos.

2) Diversidade e inclusão
"Uma cultura corporativa baseada na diversidade e inclusão, além de assegurar um valor humano fundamental – o respeito à diversidade –, é fonte permanente de criatividade e longevidade. Os líderes devem agir com urgência e comprometer-se a assegurar tratamento justo e oportunidades iguais para todos, sobretudo na promoção de equidade de gênero e raça". 
A diversidade e a inclusão de todos precisa fazer parte da formação de uma cultura organizacional, pois além de estratégica para a geração de valor de longo prazo, é urgente para a transformação e a evolução da nossa sociedade, ainda marcada pela discriminação e preconceito.

3) Ambiental e social
"A atuação dos líderes na gestão dos impactos ambientais e sociais deve ir além da agenda institucional. É fundamental integrar essas questões ao modelo de negócio e promover a articulação da organização com os diversos setores da sociedade".
As agendas ambiental e social precisam fazer parte do esforço das organizações para a promoção de um melhor ambiente competitivo e um desenvolvimento efetivamente sustentável.

4) Inovação e transformação
"A inovação deve ser a base de uma visão de futuro que objetiva o desenvolvimento sustentado da organização. Os líderes devem tomar decisões coerentes com o propósito e a estratégia do negócio, gerenciar os riscos do processo e ter disciplina para colher os resultados das ações no tempo certo e gerar valor para todas as partes interessadas".

O ambiente de negócios evolui com rapidez, o que exige das empresas um foco no desenvolvimento de talentos, ações voltadas para o aprendizado contínuo, a requalificação profissional e o aprimoramento de competências. A inovação deve ser usada pelas instituições como um instrumento para enfrentar o desafio das mudanças impostas pelo avanço tecnológico. 


5) Transparência e prestação de contas
"Os líderes devem promover a transparência e prestar contas de sua atuação a partir de um diálogo aberto com as diferentes partes interessadas, identificando seus interesses e expectativas, a fim de obter mais confiança e melhores resultados".
Os públicos de relacionamento das empresas fora ampliados com as redes sociais e a hiperconectividade ao passo que cria oportunidades também expõe as organizações a riscos de imagem e reputação.
As informações divulgadas devem refletir fielmente a realidade de suas organizações e os dirigentes devem assumir responsabilidade integral por seus atos e omissões. 
 
6) Conselhos do futuro.
"Para que atuem como agentes de transformação e catalisadores da adaptabilidade e da agilidade das organizações, os conselhos devem ser compostos com maior foco em diversidade e competências socioemocionais. Disposição para questionar, ouvir ativamente, respeitar outras visões, ousar, desaprender e reaprender são condições essenciais para explorar novas formas de gerar valor e viabilizar as transformações necessárias".

O novo conselheiro precisa desenvolver uma relação mais próxima da gestão executiva, proporcionando dinamismo e agilidade nas decisões. Os novos conselhos podem/devem recorrer com mais frequência à instalação de comitês de apoio, que possuem mais expertise e capacidade para estudar em profundidade temas específicos e mapear alternativas e riscos envolvidos. Outro ponto importante é a referência da conduta dos conselheiros, que deve servir como inspiração a outros líderes. 

As 15 medidas sugeridas, bem como todo o conteúdo da Agenda, podem ser consultados no link https://www.agendapositivadegovernanca.com. Inclusive, é possível baixar todo o conteúdo em um arquivo pdf.

 

sábado, 30 de maio de 2020

Breves comentários ao artigo "Auditoria em mares turbulentos", de Fábio Pimpão

Em 27/5/2020, o Vice-Presidente do Conselho de Administração do IIA Brasil, Fábio Pimpão, publicou o artigo "Auditoria em mares turbulentos", em que apresentou parte dos resultados de uma recém divulgada pesquisa do The IIA, The Institute of Internal Auditors – a principal organização mundial de auditoria interna – fruto de um estudo minucioso sobre o impacto da Covid-19 na profissão. Alguns pontos de destaque apresentados:


  • 25% dos auditores foram redirecionados para outras áreas, como consultoria, suporte ao business e mapeamento de controles;
  • cerca de 1/3 dos departamentos tiveram orçamentos reduzidos;
  • 20% das empresas entrevistadas enxugaram seus quadros de colaboradores.


Em relação ao deslocamento de auditores para atuarem como consultores, conforme o articulista, é preciso que seja equalizada a atividade de avaliação (Assurance) com a de Consultoria que seja garantido ao profissional uma atuação absolutamente independente. De fato, a independência é requisito basilar para a atuação do profissional de auditoria, principalmente nos casos dos auditores internos atuando como consultores do próprio empregador pois, apesar da transformação desses profissionais em reais parceiros de negócios, colocará em xeque sua eventual atuação futura quando for exercer o mister de auditor efetivo na verificação daqueles negócios em que serviu como consultor.

No que se refere à pressão por ajustes no orçamento, tal situação está ocorrendo em todas as áreas, principalmente as operativas, que precisam de melhores resultados. Assim, defende Pimpão, cabe ao auditor interno ampliar suas análises técnicas e focar a atenção no que diz respeito a ajustes de provisões, reconhecimento de receita e despesas identificadas em períodos incorretos, destacando o uso de ferramentas como big data, inteligência artificial e analytics. De fato, o uso dessas ferramentas auxilia muito no conhecimento, estudo e extração de informações importantes em grandes bases de dados informatizadas, já é realidade em muitas áreas e na própria auditoria (por exemplo, nos bancos, as auditorias internas já trabalham com big data há algum tempo) e proporciona a redução do - assim chamado pelo articulista - "batalhão de auditores". No entanto, com a devida vênia, vale ressaltar que a redução do quadro de profissionais de auditoria interna deve ser consequência de estudo cuidadoso do impacto disso na gestão de risco da organização, não o resultado da mera troca de auditor por máquinas. A visão do auditor é fundamental e, pelo menos no momento, os aplicativos informatizados devem ser vistos como auxiliares, poupando tempo dos profissionais humanos sem tomar-lhes o posto. Necessária torna-se, sem dúvida, a adaptação das empresas, seus departamentos de auditoria e dos profissionais às novas possibilidades de execução das suas atividades em tempos de crise, tais como o uso de ferramentas de análise de dados e o teletrabalho.

Conclui Pimpão que jamais o auditor interno navegou em águas tão vorazes e repletas de perigo e que o termo "gerenciar riscos" - um mantra na profissão -, passou a ser uma das mais aclamadas necessidades para empresas de todo o planeta. Termina conclamando que a auditoria, mais do que nunca, precisa mostrar sua força e acender luzes de resiliências dentro das organizações.

Fontes:
PIMPÃO, Fábio. Auditoria em mares turbulentos. Disponível em <https://iiabrasil.org.br//noticia/auditoria-em-mares-turbulentos>. Acesso em 30/5/2020.

sábado, 14 de março de 2020

Postagem da IstoÉ Dinheiro: A “uberização” da auditoria

Texto original em: https://www.istoedinheiro.com.br/a-uberizacao-da-auditoria/

O texto do Paulo Gomes traz o questionamento: imagine solicitar, com apenas alguns cliques de um aplicativo de celular, um pacote de gestão contábil e financeira, incluindo análise sobre os níveis de governança corporativa de sua empresa. Segundo o articulista, isso estaria prestes a pulsar em nossos smartphones.

O que você acha? Isso seria possível e benéfico?

Reproduzo o texto integral:

Paulo Gomes
13/03/20 - 09h00

A auditoria interna, cada vez mais valorizada no mundo e extremamente demandada, já começa a surfar na onda dos contratos de trabalhos esporádicos, com dinâmica instantânea e ajustada a necessidades pontuais — ou não tão complexas. Falamos aqui da contratação de um auditor interno por um período de alguns dias, ou, dependendo do caso, para uma tarde de avaliações.

Já existem no Brasil empresas de diversos portes que oferecem o trabalho de auditoria por jobs. Seu foco não é o mundo das grandes corporações, que possuem regras rígidas de governança e necessitam de um time de auditores preparados para atender às expectativas dos stakeholders e da alta administração. Por isso, os auditores on-demand miram companhias médias e pequenas, que não conseguem absorver o custo fixo de manter profissionais internamente e acabam contratando consultorias que realizam auditorias específicas.

Esse cenário não é novo e já está consolidado há anos. Até onde temos conhecimento, contudo, ainda não há aplicativos para essa contratação, embora estejam disponíveis todas as ferramentas necessárias para que players finquem suas bandeiras nesse nicho corporativo.

Mas afinal, como funcionaria esse “Uber de auditores”?

Suponha que uma empresa de pequeno porte demande um profissional capaz de avaliar as condições contábeis e de governança para que ela possa dar um passo importante, como aquisição ou redirecionamento de seu escopo de atuação. O aplicativo, com um portfólio burilado, seria capaz de adequar a expertise de seus auditores com a real necessidade do requerente. Bastaria ele definir seu perfil de atuação e qual a área de especialização do auditor que deseja contratar. O aplicativo então enviaria o profissional mais adequado. Se bem detalhado o pedido, já seria sugerida uma ideia de carga horária e de custo para aquele projeto específico.

Por se tratar de uma área do conhecimento altamente especializada, seria fundamental que, além da experiência profissional, esses auditores apresentassem comprovações de certificações, como as concedidas pelo The IIA – The Institute of Internal Auditors, o maior organismo da carreira no mundo, com mais de 200 mil auditores associados. É uma garantia para o contratante ter auditores que atuem em linha com as melhores práticas globais de governança e ética corporativas.

Como em toda mudança, algumas marolas devem sacudir a carreira, gerando um modelo acionado pela tecnologia e pelo pragmatismo. Os algoritmos e o uso da Inteligência Artificial contribuirão para indicar o melhor profissional para determinado projeto, além de auxiliá-lo de forma rápida e eficaz na mineração de dados para que ele possa construir um diagnóstico que atenda a demanda contratada pela empresa.

Os auditores internos fixos, integrados e que possuem uma visão holística da empresa em que atuam, continuarão a existir, principalmente nas grandes organizações. Já os auditores “Uber” serão um reforço, uma nova legião a contribuir na disseminação de processos transparentes, lícitos e eficazes. Ganha quem os contratar e ganha a sociedade, que clama por um ambiente corporativo mais justo.